Dilma muda relao com grevistas e irrita sindicatos.
O governo da presidente Dilma Rousseff endureceu a política de greves e irritou
o mundo sindical.
A necessidade de ajuste fiscal e o receio de uma escalada
inflacionária levaram o Executivo a atacar o "bolso dos grevistas" com corte de
ponto -prática raramente vista na gestão Lula, segundo centrais sindicais.
O objetivo é desencorajar paralisações que se anunciam em outras áreas cruciais,
como policiais, servidores do Judiciário e petroleiros, que negociam nesta
semana diretamente com a Petrobras e com o ministro Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral).
Para diversas entidades sindicais, Dilma joga mais duro
que Lula. "Por isso queremos demovê-la dessa política de UFC", diz o presidente
da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, referindo-se à famosa liga de
vale-tudo.
Da Europa, Dilma orientou sua equipe na semana passada a adotar
posição firme na greve dos bancários, em curso desde 27 de setembro. O
Ministério da Fazenda e os bancos privados resistem a um reajuste real (acima da
inflação) próximo a 5%.
Com uma greve desde 14 de setembro, o caso dos
Correios tornou-se emblemático. A empresa anunciou corte do ponto dos
funcionários parados. Mesmo expediente adotado na Eletrobras neste ano.
O Ministério do Planejamento diz que os cortes atuais não são novidade: embora a
maior parte das greves anteriores terminassem em acordos para repor dias
parados, houve casos de descontos, como o de auditor fiscal.
Para o Planalto, a conjuntura econômica é restritiva a reajustes neste momento.
O ritmo menor de crescimento neste ano e o temor de contaminação doméstica da crise
internacional justificam, aos olhos de alguns setores do governo, postura mais
severa. Uma conta recente reforçou a tese: o IPCA dos últimos 12 meses fechou em
7,31% em setembro.
"Se você vê uma tempestade se formar no céu, não pode
sair à rua de bermuda e camiseta. Tem que ter um guarda-chuva", afirma o
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ex-chefe do Planejamento. "O quadro
hoje é diferente de 2007, quando aumentamos os salários de muitas
categorias."
A ordem de Dilma é puxar o freio de mão nas despesas correntes
agora e manter a despesa controlada também em 2012. De volta da Europa, ela deve
hoje discutir o assunto greve na reunião de coordenação do governo.
Com Guido Mantega (Fazenda), tratará especificamente da paralisação dos bancários. Ela
determinou ainda que cada ministro atue em sua área específica na busca de
soluções que acabem ou evitem paralisações.
"É uma bobagem essa história [de momento delicado]. Estamos num momento bom para greves.
Há resultados muito positivos na economia", discorda Artur Henrique, presidente da CUT.
O Ministério do Planejamento é o principal alvo de queixa nos sindicatos. A pasta
nega atitude diferente e cita frase de Lula: "Greve é guerra, não férias". Só
que o ex-presidente sempre flexibilizava: trocava descontos por reposição de
dias parados.
Ao menos nos Correios, a orientação é manter os cortes. "É
inaceitável abonar tantos dias parados", diz Wagner Pinheiro, presidente da
empresa. Essa linha de ação reforçou o movimento de grupos sindicais que, nos
bastidores, ajudaram a circular o "volta, Lula", tese abafada pelo próprio
ex-presidente.
Fonte: Jornal; Folha de São Paulo, (10/10/2011).