Cuidado, o trabalho pode nos adoecer.

Acordar no meio da noite pensando no trabalho e sentir dor no estômago, irritabilidade e mau humor ao se lembrar do emprego são os principais sinais do chamado estresse ocupacional. Apesar de desempenharem diferentes funções, chefes e empregados, administradores, financistas e até mesmo os autônomos podem sofrer os mesmos sintomas. A solução passa por se conhecer melhor, mudar algumas rotinas ou até mesmo repensar escolhas pessoais e profissionais.

Não há apenas uma faísca que desencadeia o estresse, mas um conjunto de situações que contribuem para o surgimento e agravamento de sintomas, que vão do alerta à exaustão. E quanto maior o tempo e intensidade dos fatores estressantes – como mau relacionamento com o gestor, ambiente barulhento, prazos curtos e muitas demandas –, piores são as consequências.

Fases

Ninguém se sente estressado do dia para a noite. Veja as várias etapas:

• Alerta: A primeira fase é uma resposta natural do organismo a momentos que exigem mais atenção e cuidado da pessoa. Há uma descarga de adrenalina e aumento da circulação sanguínea, que volta ao normal assim que a situação fica mais calma.

• Resistência: A exposição frequente ao fator estressante faz com que a resistência do organismo reduza, abrindo espaço para o desenvolvimento de vírus e bactérias com mais frequência. A pessoa pode apresentar gripes constantes e demorar a se recuperar de alguma virose, por exemplo.

• Quase exaustão: Oscilação de humor e predisposição às doenças crônicas são mais frequentes entre aqueles que se encontram na fase de quase exaustão do estresse. Quem é pré-diabético ou pré-hipertenso deve tomar cuidados extras.

• Exaustão: É a fase patológica do estresse, com maior desequilíbrio psicológico e fisiológico, com necessidade de ajuda terapêutica para a recuperação.

• Síndrome de Burnout: Ápice do esgotamento profissional que se caracteriza por três aspectos: esgotamento emocional, despersonalização (a pessoa perde as características de personalidade) e perda da satisfação na atividade profissional e na autoestima profissional.

Fontes: Lincoln Cesar Andrade, psiquiatra da Paraná Clínicas; Julyana Andrade Vieira Caporal, coordenadora do setor de qualidade de vida do Imtep, instituto ligado à medicina do trabalho.

Ansiedade máxima

Responder a uma chefia, apresentar resultados financeiros com urgência e coordenar equipes são atividades com fatores estressores diferentes e que exigem cuidados distintos:

• Guia da selva: Profissionais de diversos níveis e funções estão na mira do esgotamento físico e emocional. Confira:

• Gestores/direção: responsabilidade maior, ter de responder à chefia da organização, ter de apresentar resultados rápidos e positivos, coordenar equipes cujos resultados independem dele são fatores estressores. Falta de rotina e de lazer podem desencadear crises.

• Produção: conhecidos pelos processos que seguem, uma mudança na rotina pode gerar ansiedade. Nos casos em que o funcionário não tem autonomia sobre o trabalho, isso também pesa. Ruídos intensos e temperatura do ambiente completam a carga de estresse.

• Comercial: quem trabalha na área comercial tem um perfil negociador, próprio do marketing e vendas. O principal causador de estresse é a meta que a organização coloca a cada funcionário que, normalmente, aumenta com frequência.

• Administrativo: depender de outras pessoas para que o trabalho seja feito é um fator estressante e muito comum em quem trabalha nessa área. O tempo disponível para entrega de resultados pode influenciar.

• Autônomos: a falta de um “chefe” não isenta o profissional autônomo do estresse ocupacional, especialmente pelas cargas horárias excessivas e falta de rotina. A dependência ao trabalho para resultados no fim do mês é maior neles do que entre funcionários.

Fontes: Lincoln Cesar Andrade, psiquiatra da Paraná Clínicas; Emílio de Castro Paiva, professor da FAE Centro Universitário e especialista em gerenciamento de tempo; Julyana Andrade Vieira Caporal, coordena­dora do setor de qualidade de vida do Imtep, ligado à medicina do trabalho.

Vulneráveis

“Quando a exposição ao estresse é permanente, a pessoa tem reduzida a resistência e fica mais vulnerável a vírus e bactérias, surgindo as gripes de repetição e outras doenças. A fase seguinte é de quase exaustão e a pessoa vivencia uma gangorra emocional”, explica a coordenadora do Setor de Qualidade de Vida do Imtep, instituto ligado à medicina do trabalho, Julyana Andrade Vieira Caporal. Doenças crônicas e autoimunes também podem surgir nesse período, especialmente em quem tem predisposição à hipertensão, diabetes tipo 2 e artrite reumatoide. “O estresse desorganiza a fisiologia do organismo, fazendo surgir sintomas psicológicos, como o sentimento de aversão ao local de trabalho, aquela angústia de domingo à noite”, afirma o psiquiatra da Paraná Clínicas, Lincoln Cesar Andrade.

Ser chefe é pior

Os sintomas de estresse entre chefia e funcionários podem ser os mesmos, mas o risco a que cada um está exposto é diferente – e o chefe é quem sofre mais. Para a psicóloga especialista em Psicologia Organizacional do Trabalho Camila Walger, um gestor, mesmo com conhecimento e experiência, está mais suscetível a situações estressoras, pois se relaciona com mais pessoas e a expectativa nele depositada é maior. Além disso, pesam a falta de rotina de trabalho, o não respeito à carga horária e o fato de levar trabalho para casa. “Muitos não têm momentos de lazer em família, aumentando o risco de estresse e fadiga”, explica Julyana Caporal.

No entanto, as experiências pes­­soais influenciam a resposta ao estresse. “Um executivo com fatores estressantes altos pode responder melhor do que alguém em uma área de produ­ção, que sofra uma pressão menor”, diz o professor de Psicologia da PUCPR Ulisses Domingos Natal.

Mudança de planos

Por uma vida menos estressante

Se a prevenção não deu certo, é essencial reconhecer os sinais do estresse. “Saber que está irritado, que está sendo grosseiro com os colegas é fundamental. Depois, é importante refletir sobre a atividade profissional, fazer uma auto-orientação e ver se o trabalho lhe faz bem”, diz a especialista em Psicologia Organizacional do Trabalho Camila Walger.

Em alguns casos, a mudança de profissão é a melhor resposta. Inês Aparecida da Silva Friederich, responsável por prospectar novos clientes e atingir metas cada vez maiores de uma empresa multinacional, percebeu que a pressão constante havia resultado em problemas no estômago, dores de cabeça frequentes, assim como dor nos ombros, ansiedade, insônia, mau humor e depressão.

“Conversei com meu marido e reorganizamos as finanças para que pudesse pedir demissão. Confesso que não foi fácil, mas no mesmo instante que fiz, foi como se literalmente tirasse um peso das minhas costas”, conta. Três meses depois, Inês conseguiu outro emprego, que permite mais tempo com a família.

Incompatibilidade

Se os objetivos de vida e valores pessoais não estiverem alinhados com os objetivos e valores da organização, isso pode ser um fator gerador de estresse no futuro. As empresas mais competitivas, que prezam pelas metas, podem ser um excelente espaço para pessoas com essas características, mas para outras não. Conheça a empresa antes de tentar uma vaga.

Prevenção

Ter uma alimentação adequada, fazer exercícios físicos, separar momentos de lazer e descanso com a família e amigos, além de retirar fatores ambientais pode reduzir a carga de estresse. “Ruídos no local, poluição visual e alterações no sono podem ser modificados alterando o turno ou o ambiente que o funcionário trabalha”, sugere Julyana Andrade Vieira Caporal, coordenadora do setor de qualidade de vida do Imtep.

Post- Alexandre Drulla

Fonte: Jornal Gazeta do Povo